As "tardes vazias" de Marc Chalmé

Obra: "Le Couloir" - Marc Chalmé



As pinturas de Chalmé são hipnotizantes. Chalmé cria ambientes em que a ambiguidade da existência é colocada em primeiro plano.

"Tardes vazias" são uma constante em suas obras. E não à toa. A força arrebatadora trazida pelo profundo sublime de uma tarde vazia e monótona é capaz de despertar a melancolia de ser e, assim, nos lançar, nesse instante cambaleante, para o aberto, nas alturas de um estar aí sem apoio - demorar-se junto ao nada: habitá-lo e ser por ele habitado.

Em "O que é metafísica?", Heidegger chega a dizer: "Ser-aí quer dizer: estar suspenso dentro do nada". Essa noção originária daquele lugar essencial do homem que o sequer permite habitar o mundo, ter um "mundo", entrelaçar-se nele e ali assentar, chama atenção não para um modo específico, determinado (ou determinável) de ser, mas para a própria amplidão do ser do homem. Não a presença constituída, mas a sequer passagem para a fundação e plantação de uma presença; não a manifestação, mas a manifestabilidade mesma. Quer dizer: não a presença, mas a presentificação, sua eclosão.

Em outros termos: o homem não nasce pertencendo a um mundo, a um modo de vida, a um modo de sentir o mundo. Estas são conquistas. O homem não nasce enraizado, ele precisa plantar-se primeiro, e deixar o tempo fortalecer suas raízes, para somente então poder romper da escuridão oculta do solo em direção às alturas da abertura celeste.

Chalmé explicita essa autoconsciência do caráter essencial e incontornavelmente finito de ser humano. As mulheres de suas pinturas não são sensualizadas, delicadas ou feminilizadas. Elas estão como que "suspensas dentro do nada".

As tardes não são românticas como em uma obra de Caspar David Friedrich. Não são "recheadas" de vida. São terrivelmente banais e vazias. Nada de grandioso ou épico acontece na tela. E mesmo assim, a grandeza da alma é exaltada na suspensão da presença.

Na verdade, somente aí a presença é relevada enquanto presença (o caráter de eclosão de presença que é originário desse nada essencial), pois, como colocou o próprio Heidegger (Fenomenologia e teologia):

Presença significa: uma simples prontidão que nada quer, que não calcula nem conta com resultados. Presentar-se junto a...: puro deixar-se dizer o presente de Deus.

É esse dizer poetante que se deixa dizer nas obras de Chalmé. É um dizer que, em verdade, nada diz, ou melhor, diz nada. O estremecimento da linguagem reina na solidão dessa serenidade exposta no olhar distante das pessoas atravessadas pelo vazio da tarde. E serenidade quer dizer aqui precisamente: essa "estranha tranquilidade" (O que é metafísica?) de que fala Heidegger, que emudece todo dizer que busca determinar qualquer coisa.

O dizer poético que emerge ao deixar-se ser arrebatado e suspenso no (e pelo) nada, é um dizer que abandonou a sequer pretensão de apreender e determinar as coisas. A palavra torta e quebrada, frágil, sem apoios ou certezas, é um tatear na claridade desnorteadora. Dizer o nada: eis o esforço da poesia da aparição, tão autêntica como as "tardes vazias" de Chalmé que, ao mesmo tempo, não poderiam ser mais ricas e "cheias da presença inexorável dos deuses". Como dizia Mestre Eckhart: "é naquilo que sua linguagem não pode dizer, que Deus é verdadeiramente Deus".




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